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A TV completa 70 anos no Brasil em setembro e Quem mostra personalid
ades que fizeram parte desta história, iniciada em 18 de setembro de 19
50, com a inauguração da TV Tupi. A atriz Lolita Rodrigues, hoje com
 91 anos de idade, estava na cerimônia de abertura da emissora coman
dada por Assis Chateaubriand (1892-1968), cantando o hino A Cançã
o da TV. Ela foi escalada às pressas, substituindo a amiga Hebe Camar
go, que desistiu de participar para ter um encontro com o então namora
do Luís Ramos.
Em sua biografia, assinada por Eliana Castro e lançada em 2008 pela 
Coleção Aplauso, Lolita afirmou: “Eu não sou uma pessoa interessan
te. Não tenho nada para contar. Sou igual a todo mundo. Eu não tenh
o empregada. Cuido, eu mesma, das minhas coisas. Uma faxineira
, para mim, basta. Sou muito simples. A comida de casa é congelada. A
doro assistir TV. Em especial, os canais de língua espanhola, porque so
u filha de imigrantes”. Na época, Lolita vivia na cidade de São Paulo e 
ia ao Rio de Janeiro a trabalho – a última novela foi Viver a Vida (Globo
, 2009), como Noêmia.
Mesmo longe da TV, ela fez questão de manter vínculos com colegas co
mo o diretor Jayme Monjardim, prestigiando o lançamento de Flor do C
aribe, em 2013. “Faz anos que não trabalho com televisão e tenho mu
ita saudade disso. Vim ver a turma para matar a saudade. Vejo a nov
ela Rainha da Sucata [no canal Viva], dá muita saudade, eu estava bon
ita e nova”, afirmou para Quem a atriz, que também tem problema na
 visão e já não enxerga do olho direito. Na ocasião, ela ainda morava 
em São Paulo, tinha  desejo de continuar trabalhando, mas ente
ndia as complicações: “Ando de bengala, entendo que é difícil essa logíst
ica de me levar para o Rio”.
Atualmente, ela vive reclusa na Paraíba, onde mora com a única filha,
a médica Sílvia Rodrigues. “Ela é totalmente devotada ao trabalho com
 comunidades carentes. Trabalha e mora em João Pessoa. Posso
 dizer que minha filha é uma missionária. E é feliz com a vida que esco
lheu para si. Não se casou e está sempre cuidando dos mais necess
itados. Eu respeito muito a opção dela e tenho orgulho de ter uma filha
 assim. A distância física faz com que eu tenha saudade. Mas a gente
 se fala diariamente pelo telefone. Ela vem a São Paulo quando pode
. Geralmente, em datas especiais, como aniversários. A maior parte d
o meu tempo passo longe dela e, assim, acabei me conformando e 
me acostumando com uma rotina solitária”, declarou em 2006. O nom
e da filha, aliás, remete ao nome de batismo de Lolita: Sylvia Gonçalves.
Além da dedicação à mãe, Silvia atualmente trabalha como professora

 de Saúde Coletiva da Faculdade de Ciências Médicas da Paraíba e
 médica da Unidade de Práticas Integrativas e Complementares Equilíbr
io do Ser.
Morando no Nordeste desde julho de 2015, Lolita fez sua última ap
arição pública em 2013, quando prestigiou uma apresentação do espe
táculo Hebe – O Musical, em São Paulo, cidade onde viveu por anos n
o bairro dos Jardins. “Eles não se afastaram da história dela nem uma v
írgula, foi exatamente aquilo. Foi muito bem encenado, as roupas, 
as coreografias. Você não precisa mais sair do Brasil para ver musica
l. Foi muito emocionante, não tem um minuto que caia o nível”, dis
se a atriz no saguão no teatro. Na ocasião, ela usava uma cadeira 
de rodas por conta de dificuldades locomotoras desde que sofreu um
a fratura no fêmur. “Cresci com ela. Ela dizia que era minha segunda 
mãe e se emocionou muito ao ver o musical”, afirmou Marcello Cama
rgo, filho de Hebe.
TRAJETÓRIA NA TV
Depois de entoar A Canção da TV, hino composto por Guilherme 
de Almeida, Lolita tinha a situação sempre recordada por Hebe, que 
dizia, com humor, “que bom que eu não cantei isso”. “Usei o mesmo 
vestido que havia feito para minha formatura na Escola Normal, porqu
e não dava para eu ficar gastando dinheiro com roupas. O dinheiro, p
ara mim, sempre foi curto”, conta.
Como o sonho de Lolita era atuar, ela pedia um papel a Cassiano 
Gabus Mendes, que, aos 23 anos, assumiu a direção artística da 
Tupi. Primeiro, fez figuração no especial Canção da Bernadette e, dep
ois, foi escalada para um papel de destaque, Esmeralda de O Corcund
a de Notre Dame, em 1957.
PRIMEIRAS NOVELAS
Depois de participar de teleteatros e novelas que eram exibidas d
uas vezes por semana durante a década de 1950, Lolita fez a p
rimeira novela diária da televisão brasileira 2-5499 Ocupado, prota
gonizada por Gloria Menezes e Tarcício Meira, na TV Excelsior, em 1
963, como a antagonista Laura.
No ano seguinte, fez Ambição, da Ivani Ribeiro. De acordo com Loli
ta, a trama “foi a primeira novela a fazer um grande sucesso”. “Nem f
azíamos ideia do alcance que a TV poderia ter. As pessoas que aco
mpanhavam a trama achavam que as coisas que aconteciam na no
vela eram reais. Então, se alguém se casava na história, era 
comum recebermos presentes dos telespectadores. Era uma época 
de total inocência.” Quando ainda era inexperiente, a atriz se insp
irava nas atrizes – e amigas – que admirava, como Márcia Real, Lia de
 Aguiar e Laura Cardoso.
ALMOÇO COM AS ESTRELAS
Como apresentadora, Lolita Rodrigues fez grande sucesso comanda
ndo o Almoço com as Estrelas, ao lado de Airton Rodrigues, 
seu marido e secretário de Assis Chateaubriand. Em sua biogr
afia, a atriz evitou afirmou que o relacionamento era um assu
nto que não a deixa à vontade. “Tive apenas um namoro sério, qu
e foi o Airton Rodrigues, com quem logo me casei. Não vou fala
r sobre o final do meu casamento, porque saí muito machucada e n
ão quero mais mexer nisso. Mas o curioso da história é que o meu r
omance com o Airton começou pr
aticamente junto com o nascimento da TV Tupi, a primeira emissora 
de TV no Brasil em 1950.”
A atriz reconhece que Almoço com as Estrelas, que estreou em 1954
,foi um programa que marcou sua carreira. “Confesso que nunca 
tive coragem de interromper um convidado! Então, alguns artistas peg
avam o microfone e não paravam mais. Às vezes, eu percebia que de
terminada pessoa falava e falava, mas eu não dizia nada. Eu tinha c
onsciência disso, mas não queria ser grosseira e deixava. Fazer o qu
ê? O Airton é que ficava uma fera comigo. Nos bastidores, isso gera
va algumas discussões entre nós durante os intervalos comerciais. Ta
mbém existiam alguns problemas técnicos. Não sei dizer quantas ve
zes, mas já aconteceu de entrar o playback errado e o artista ficar 
sem graça. Sempre fui distraída e, por isso, cometia algumas gafes
. No Almoço com as Estrelas eram tantos os convidados que eu me a
trapalhava mesmo. Não conseguia decorar onde cada um estava sent
ado”, afirma, contando que Airton foi quem a incentivou a seguir como atriz.
SEM BEIJO
Lolita conta que “a única coisa que ele não aceitava” era que fizesse c
ena de beijo com os galãs das novelas. Para contornar o problema, a at
riz conversava com os diretores e com os atores com quem iria trab
alhar. “Era meio chato, mas falava abertamente: Olha, não quero que
 você me leve a mal. Não fique zangado comigo, mas o Airton não gos
ta e não quer que eu beije na TV. Nunca tive nenhum proble
ma com isso. Todos sempre me compreenderam e foram extremamen
te cavalheiros comigo. Na hora do beijo a gente dava um jeito de fin
gir e a cena saía. Isso nunca atrapalhou a minha carreira de atriz. Nem
 minha amizade com os atores. Depois, tem uma coisa: as novelas de an
tigamente eram mais ingênuas. Não tinham safadezas. Nem gosto m
uito de entrar nesse assunto, porque dá a impressão que eu sou muito 
conservadora. Não é isso. Mas eu sou do tempo daqueles filmes de Ho
llywood em que as intimidades entre os casais eram apenas sugeridas”, d
iz a atriz em suas memórias.
Já separada, Lolita deu seu primeiro beijo – “técnico, claro”, como res
salta – com quase 60 anos de idade em Sassaricando (Globo, 1987) em
 cena com Carlos Zara. “Ele era meu amigão e havia muita cumplicidade
 entre nós. Fizemos muitas no
velas juntos e eu sou amiga da Eva Wilma. Não dá para beijar qualqu
er um. Eu não consigo!”, afirmou Lolita, que interpretou a personagem Al
donza na história, desmentindo a versão de que o primeiro beijo tenha a
contecido em A História de Ana Raio e Zé Trovão (Manchete, 1990). “
A imprensa noticiou muito isso, mas não é verdade.”
VELHOS TEMPOS
“Hoje em dia, as pessoas só pensam em ganhar dinheiro. Mas quand
o começamos, o trabalho na TV não era bem remunerado. Não existia
 glamour, não existia figurinista, continuísta, cenógrafo. Todo mundo pre
cisava fazer um pouco de tudo. A gente levava roupa, móvel e obje
tos de casa ou pegava coisas emprestadas dos amigos e da família. 
Comecei a fazer televisão numa época que TV era artesanato. N
o início da Tupi, eu cantava e apresentava.”
AMIZADES
Lolita formou com Nair Bello e Hebe Camargo uma amizade muito for
te. “A Nair Bello era uma dessas amizades eternas. Ela e eu trabalh
amos juntas no programa Zorra Total, mas quando não estávamos juntas
, gravando, nos falávamos u
mas quinhentas vezes por dia ao telefone. Ela era uma amigona e tam
bém uma figura. Costumo dizer que a Nair era a mulher do minuto 
seguinte. É impressionante como ela era ansiosa. Quando viajava com e
la para o Rio, onde gravá
vamos, parecíamos duas loucas, porque a Nair não tinha paciência! Se
 estava entrando no táxi, já que
ria saber como faria na hora em que chegássemos ao nosso destino. El
a estava sempre pensando lá n
a frente. A Nair era maravilhosa.”
De acordo com a atriz, os encontros com Hebe eram mais eventuais. 
“Nos conhecemos em São Paulo, quando trabalhávamos na rádio Tupi. 
Estávamos com 15 anos e já
 éramos profissionais. Morávamos perto e logo fizemos amizade. Acont
ece que a carreira da Hebe c
resceu muito. Continuamos boas amigas, mas não daquelas amizades de
 estar o tempo todo coladas”,
 afirma a atriz que é retratada na minissérie Hebe, lançada pela TV Glo
bo em 2020.